quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Logo vi

Logo vi. Só podia ser você.
Logo vi, tinha que ser você!
Pra quem eu olhei, quem eu amei?
Só podia ser você, você!
Quem me faz sorrir, quem me faz amar?
Tinha que ser você!
Para abraçar, beijar e dançar.
Só com você, só com você!
Logo vi que seria assim, desde o momento
em que percebi teu olhar, teu cheiro
Teu ar inteiro; só podia ser você.
Você em mim, eu em você.
Eu logo vi que seria assim!
Logo se vê que amo você!

Paixão

Cai na real e confessa.
Foi você, eu sei que foi. Chegou de mansinho, sem nada dizer.
Foi se instalando, se aprochegando e se apoderando de todo o espaço. 
De repente, tudo mudou. As transformações ocorreram, os horizontes 
se modificaram, nem somos mais os mesmos. Parece que nada será como 
antes e, talvez, fique tudo igual. Ou seja, confuso. Confusão foi uma das 
coisas que trouxeste.  Não precisa se esquivar, não precisa confessar. 
Nem tente se defender. De nada vai adiantar apoair-se em devaneios, 
alusões e ilusões.
Eu sei que foi você.
Derrubou o mundo, levantou ideais. Quebrou muros e cancelas. 
Construiu argumentos. Fez brotar lágrimas e multiplicou sorrisos. 
Os pés rodopiaram, os quadris balançaram. Os braços festejaram e 
a cabeça, hum... A cabeça saltitou inebriadamente perdida. Pois, trouxeste,
 também, a perdição.
Ah, esse mundo que, agora, se apresenta! Tão sem nexo que até faz 
sentido. Tão cheio e solitário. Tão cantante de silêncio. Tão tudo e tão nada.
Esse mundo que, agora, se apresenta traz consigo novidades perturbadoras. 
Quando a fortaleza se ajoelha, alegremente, frente ao desconhecido, faz 
desmoronar toda a vontade mais arraigada de juízo.
Juízo pra quê se você existe, se você chegou e trouxe a vida, o calor, 
o sabor, a magia?
Juízo pra quê se gosto de você, Paixão?



terça-feira, 16 de outubro de 2012

Aniversário

Faltam dois dias para meu aniversário.
Farei 43 anos. Incrível, né?
Principalmente incrível, se eu me lembrar que quando
estava com uns 14 ou 15 anos, dizia que queria morrer
aos quarenta.
Esse era meu desejo por imaginar que alguém com mais
de quarenta anos era velho demais. E eu não queria ficar
velha.
Piada!!!. Tem tanta gente jovem que é velho por dentro.
E, isto em qualquer tempo. Ontem, hoje e sempre.
Vou fazer 43, porém minha mente fervilha como se
tivesse 20.
É claro que gostaria de ser mais jovem, digo, ter menos
idade, para fazer mais coisas. Coisas que não fiz antes.
No entanto, acho que não as faria hoje, também.
Arrepender-me de algo o suficiente para fazer melhor
ou não fazer? Não.
Não tenho arrependimento assim o suficiente.
Tenho somente um único arrependimento. Só que eu
não conto, não conto, não conto.
E, se alguém pretende 'chutar' que foi meu primeiro
casamento, enganou-se. Não foi o casamento dos sonhos,
de qualquer forma foi uma grande lição.
Ter menos idade não significa fazer mais coisas.
Não sou fã de Dercy Gonçalves, mas gostaria de ser
como ela: atingir os 100 e avante. Ou, como Roberto
Marinho, que teve sua grande empreitada a partir dos 60.  
Não pretendo esperar 17 anos.
Todos somos jovens. Cada um a seu tempo.
Pretendo transformar as minhas coisas em ações que
sejam boas para mim e para os meus, pelo menos isso.
E, claro, continuar feliz e tranquila, como sou e estou.

Beijos da Rê.

                

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

domingo, 12 de agosto de 2012

Fazendo algo por mim: Tentação da sexta-feira

Fazendo algo por mim: Tentação da sexta-feira: Ainda bem que não é sexta-feira 13! kkkkkkkkkkkkkkkk Eu não sou supersticiosa, não nesse sentido de achar que 13 é um número de azar e e...

Fazendo algo por mim: Tentação da sexta-feira

Fazendo algo por mim: Tentação da sexta-feira: Ainda bem que não é sexta-feira 13! kkkkkkkkkkkkkkkk Eu não sou supersticiosa, não nesse sentido de achar que 13 é um número de azar e e...

domingo, 22 de julho de 2012

Sua estrela cadente



"Quando você faz um pedido a uma estrela, não faz diferença quem você é.
Tudo o que seu coração deseja, se seu coração está em seu sonho,
Nenhum pedido é exagerado.
Quando você faz um pedido a uma estrela, como os sonhadores fazem, o destino é É domingo!
Acabei de colocar "Você vai conhecer o homem dos seus sonhos". Mas, não se precipitem. Não vou escrever nada sobre este filme. Ainda está no começo, nem estou olhando para a TV. O que vou escrever tem a ver com "Estrelas Cadentes". 
Quem já não viu uma, quem nunca arriscou um pedido? Até quem não acredita. Verdade! Os que não acreditam, dizem: "Se eu fosse fazer um pedido, seria..."
O filme mencionado inicia-se ao som de "When You Wish Upon A Star", de Ned Washington e Leigh Harline. Na voz de Leon Redbone, faz-nos lembrar Elvis. Foi a legenda que traduz a letra da música que me fez pensar; claro que a lembrança romântica e aconchegante de Elvis, também.

gentil.
Ele traz para aqueles que amam a doce realização de seu desejo secreto!
Inesperadamente, o destino se apresenta e conduz você...
... E seus sonhos se tornam realidade!"

Quando fazemos um pedido a uma estrela, pedimos aquilo que nos agradaria, aquilo que nos deixaria felizes.
Mas, será que uma estrela teria todo este poder? Poderia ela, trazer em sua cauda um pequenino ser, mágico e encantador? Derramar um pozinho estrelado sobre nossas cabeças e transformar tudo?
Você consegue se imaginar numa sacada qualquer, ou sentado a calçada a espera de uma estrela cadente? Isso é mais que esperar. É aguardar, como diz aquela voz eletrônica que diz: ‘Aguarde um momento e logo será atendido’. Se for de uma operadora de celular, sabemos quanto tempo leva este ‘momento’.
Pois bem, continue a contemplar o céu. Ele é lindo! Mas, seja a sua própria estrela cadente! Pense no que te agradaria, no que te faria feliz. E faça por você mesmo.
Eu sei que deve haver um sem número de desejos, pedidos infindáveis. Difícil saber por onde começar, não é?
Não vou mentir! Todos os dias eu vou volto, faço um ‘tour’ dentro da minha consciência. Cansei de me criticar, de chamar minha atenção ou até rir de mim mesma! Já fiz incontáveis listas de coisas importantes para fazer quando o próximo dia chegar: a velha e bem conhecida segunda-feira. Para alguns, ‘a próxima quinzena’, ‘no mês que vem’, ‘antes de o verão chegar’.
A minha sugestão é: FAÇA ALGUMA COISA POR VOCÊ.
Chega de procrastinação. Comece. Comece por algo simples – é claro que se você for mulher, não existe nada simples. Mas, tente! Desafie-se!
É válido começar por algo que vem sendo adiado há anos. É por aí que eu vou começar. Vou marcar uma consulta e vou ao médico. Afinal, desde quando meu Dudu nasceu não faço uma ‘vistoria’. E, olha que na próxima sexta ele completa seis anos!

EU VOU FAZER ALGO POR MIM.
ME ACOMPANHA?
ENTÃO, FAÇA ALGO POR VOCÊ TAMBÉM!

Inté!


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Hoje pode ser o começo de tudo!

Já pensou em recomeçar?
Não precisam ser coisas novas, podem ser as velhas, mesmo. Mas, de um jeito
novo, com mais paixão, mais dedicação, mais senso e mais respeito por você e 
pelos que te cercam.

Já pensou em renovar?
Renovar a casa, o armário. Mas, principalmente, seus olhos,
seus ouvidos, sua fala, seus sentimentos e pensamentos.

Não precisa mudar!
Apenas, equilibrar com seu próprio interior, 
sua crença mais profunda.

Já pensou em você, hoje?
Já pensou em nós?
Não em 'nós', eu e você.
Mas, você e seus 'nós'!

Esse é um bom começo para recomeçar:
Pensar!

          Regina Célia Costa, 11/07/12.





quarta-feira, 6 de junho de 2012

Eu que fiz!


Com gostinho de feijoada!

Olá, amigas e amigos!
Todos já perceberam que o feijão 'carioca' está com o preço pela 'hora da morte'. Onde já se viu custar tão caro! É fato, também, que o feijão preto está mais barato. Até quando não se sabe. Sabemos somente que tudo é possível: subir, baixar só por que o outro está subindo ou baixando. Mas, enquanto ele está notoriamente mais barato, vamos consumi-lo. 
Eu, por mim, não tenho problema nenhum com o feijão preto. Há algumas pessoas que o associam apenas à feijoada. Imagina!
"Em casa de mamãe e papai' comi feijão preto até os 22 anos de idade. Era só feijão preto. Do outro ,apenas quando eu ia à casa de minha madrinha Dulce ou de uma amiga de escola, a Neine. Do contrário, só feijão preto. 
Tudo mudou quando engravidei da minha Iaiá e comecei a ficar enjoada com o cheiro do feijão que sempre levava como tempero um pedaço de pé-de-porco, ou carne seca, por exemplo. Mas, era pouco, só para dar sabor. Com o meu enjôo, mudamos para o outro feijão, o carioca. E continuou como opção contínua, pois, encontrava-se ao longo de duas décadas, a partir daí, mais barato que o 'preto'. ( Dá para saber a minha idade atual???) E agora, uau, as coisas se inverteram!
É óbvio que tenho comprado somente o feijão preto. Só que meu marido reclamou que estava sem gosto, insonso. Levando em consideração que o tempero usado por mim é o mesmo, percebi que o feijão preto exige um pouco mais de 'temperidade'.
Ora, não sou de exagerar no sal. E, hoje em dia, quem entende de 'cozinha' sabe que há diversas opções maravilhosas de temperos. Temperos charmosos, elegantes e deveras perfumados. Pois bem, se você ainda não acertou na sua temperidade no pretinho básico, logo abaixo uma receita que não vai pesar mais em suas gordurinhas. 
O coentro é uma maravilha no feijão, seja o preto ou o carioca. Aprendi com um amigo do Amazonas. Até então só usava em peixes e, hoje, uso até para temperar saladas. Há quem não goste dele, mas vale a pena experimentar.
Ontem servi este feijão na janta. Acompanhei arroz branco no alho, salada de legumes cozidos  e agrião, temperados com 'vinagrete só de cebola e cheiro verde'.  Hum, o vinagre de maçã é muito bom. Sempre pouco sal, não esqueçam!

Feijão preto com gostinho de feijoada:

01 kg de feijão preto
1/4 de orelha de porco salgada
02 'ripinhas' de costelinha de porco salgada (tamanho equivalente a sua mão fechada)
02 tomates maduros porém firmes
02 cebolas picadas grosseiramente
1/2 de pimentão (médio) picado
15 rodelas de mais ou menos 0,5 cm de calabresa defumada
01 pedaço pequeno de bacon picado ( pequeno mesmo é só tempero)
01 colher de sopa de óleo de soja
03 galhos de coentro bem picado
03 galhos de salsa bem picada
03 cebolinhas picadas miudinha
01 sache de tempero em pó próprio para feijão

Escolha e lave o feijão.
Lave a orelha e a costelinha em água corrente.
Ponha-os na panela de pressão e quando abrir fervura marque quarenta minutos e desligue.

Em outra panela, aqueça o óleo junte a linguiça e o bacon e deixe fritar por uns dois minutos. Acrescente a cebola, o pimentão e mexa. Deixe até que a cebola comece a amolecer. Junte os tomates e mexa. Deixe até que fique com característica de molho, que os tomates se desmanchem. 
Junte o feijão e as carnes já cozidos, misture e prove  para ver se há a necessidade de mais 'sal'. Muito provavelmente não precisará. Acrescente a salsa, a cebolinha e o coentro. Junte o sachê de tempero mexa bem e deixe apurando até que o caldo comece a engrossar. Desligue e sirva com arroz branco e salada verde.
Bom apetite!
Fica uma delícia!



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Perdidos e achados

Olá! Já faz um tempinho que não escrevo.
Semanas agitadas, as duas últimas! Curso de bolo cenográfico, casamento de primo
e outras coisinhas.
Bom, hoje, eu estou arrumando aquilo que chamo de atelier/escritório, o meu cantinho. Todo mundo tem um.
Aquela parte da casa que parece uma extensão da gente, onde guardamos tudo o que mais gostamos e onde fazemos nossas artes, escritos e divagações sobre a vida passada, presente e futura! e, é claro, todos sabemos que sempre encontramos algo que nem sabíamos mais que existia. No meu caso, um escrito. Palavras dispostas num pedaço de papel que nem era para rascunho.
Eu achei um bloco de recibos no qual, em 24/05/2007, escrevi em seu verso o seguinte:

     " Oi, procuro alguém
com quem passar
horas agradáveis,
a perder de vista.

    Alguém inteligente,
divertido, educado.

Alguém que saiba
conversar sobre
assuntos importantes e
desimportantes,
profundos e
superficiais.

Que saiba contar
piadas,
mesmos que
sem graças.

Que conte tudo
e não fale nada.

Alguém que conte
estrelas e não
diga quantas há.

Que queira rir
do sério e
leve a sério uma
boa risada.
E gargalhe de
ambos
mesmo chorando.

Procuro alguém
que mesmo
sozinho
não seja só.

Procuro alguém
que como eu
queira viver
queira sentir
queira se divertir
sorrir.

E, acima de tudo,
alguém que queira
e saiba amar.

Amar com ternura
com loucura
com paixão
com coração.

Alguém que
queira se
dividir ao
se multiplicar.

Sobretudo, alguém
que mais do
que me querer
também queira
ser querido!"

                   Regina Célia Costa


               





sábado, 19 de maio de 2012

Ai ki delícia de sábado!

   Não tive escolha, tive que usar o 'chavão' de Narcisa.
  Realmente, tive e estou tendo um sábado delicioso. Sozinha em casa desde às sete da manhã! Isto é maravilhoso, repito: m a r a v i l h o s o!
   Marido foi trabalhar e meu Dudu Wagno foi para a casa da avó. 
   O quê fazer sozinha em casa? Aproveitar o sossego, o silêncio. Não ter que ouvir a todo instante:
   - Mãe! Mãe!
   Naveguei na internet, pescocei no Pagseguro, na Lomadee, no Facebook. Lí meus e-mails, etc.
   Lanchei na hora do almoço meio pão com fritada de calabresa com requeijão e cebola, tomei uma xícara de café instantâneo. Fiz e estou fazendo o quero. O único som nesta casa, além do meu, são única e exclusivamente os que eu permito, ou seja, o da tv.
   Já fiz o meu pé, que por sinal é lindo, desafia toda a minha estrutura: pequenininho, tão lindinho meu pézinho!
 Assisti dois filmes: 'Armações do amor' (Failure to Launch) com Sarah Jessica Parker e Matthew McConaughey, 'Mamma Mia! o filme' (Mamma Mia!The Movie) com Meryl Streep, Pirce Brosnan (gatíssimo) e outros. Ri e chorei no primeiro, chorei e ri no segundo. Cantei, dancei, gritei. Me esbaldei sozinha em casa. Amo filmes. Curto todos os gêneros, exceto terror e aqueles com muita violência ou palavrões.
   É ótimo estar sozinha comigo mesma, sozinha de verdade, sem ninguém por perto. Não ter que fazer coisas para os outros. Ter meu dia só para mim. Como isso faz bem. Ah, e sem louça para lavar, sem almoço para fazer. Um dia só meu. Adorooooooooooooooo!
   Agora, estou aqui escrevendo, tomando um copo de 'cerva'. Vou tomar um banho demorado do jeitinho que mereço, sem precisar me secar; gosto de me deitar e deixar o 'corpo secar sozinho', curtir um tempinho no quarto escuro, ficar relaxando. Meu momento, meu, meu, só eu!
   Depois eu me arrumo, pois vou me 'estressar' no shopping, comer um chedar mcmelt, jogar boliche ou aquele jogo dos 'piratas' emocionante! Tomar um shopp, andar e andar (como se eu gostasse mesmo disso - andar, kkkkkkkkkkkkk).
   Estou indo pro banho. 
   Mas, deixo o conselho: escolha um dia e dispense todo mundo. Isso faz bem!
   Ah! E os filmes eu recomendo!
   Bom sábado!


                           Regina Célia Costa

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Na espreita - parte três

    Pois bem, David decidira abrir o tampo e seguir seu destino. Sabia que não havia como fugir do que estava escrito. Sua vontade de terminar com o sofrimento da dúvida e as incertezas a cerca de seu futuro, tornaram-se maiores que o medo.
    Durante anos, ele alimentara o medo das consequências que recairiam sobre a humanidade, caso seguisse o inevitável. Mas, não tinha jeito. David não aguentaria um só dia o fardo deste medo. O fim chegou e sabia que este era apenas o início de tudo.
    Começou a destravar o tampo de vidro. Eram ao todo sete travas, para cada uma havia um código diferente. Tais códigos foram ensinados a David mesmo antes de aprender a ler ou escrever. Foram sua primeira lição. Cada um deles era formado por sete algarismos e três letras. Uma combinação difícil de ser memorizada que representam parte de sua tortura mental.
    Respirou fundo e começou. O código da primeira trava veio-lhe a mente tão fácil como se pode dizer o próprio nome.
    -A primeira trava é 6F66G0357L. Falou em voz alta e ouviu um 'treck'.
    Sentindo um frio no estômago, mas continuou:
    -A segunda trava é  K154P137R9.
    David estava temeroso e ao mesmo tempo convicto.
    -A terceira: 87Z310T2H4.
    -A quarta trava: 666B333Y1A. Suava frio, seu cérebro fervia, suas mãos tremiam.
    Seu pensamento retornava à infância que perdera por causa destes códigos. Achava não ter sido justo para uma criança tal responsabilidade. Perdera momentos divertidos. Porém, agora entendia sua missão e sabia que protelara por tempo demais.
    -A quinta trava é W798E1563B.
    -A sexta: D58FG94761
    Fora treinado para eliminar qualquer tentativa de fuga e, na hora certa, para agir com precisão. Às vezes pensava que a hora certa já havia passado. Por outro lado, sabia que o momento de cada ato ocorre quando deve de fato ocorrer. Chegava assim, ao instante derradeiro.Respirou fundo mais uma vez, relembrou a sétima e última senha. Ponderou com a sapiência da retórica, seguiu adiante.
    -A sétima trava eu abro agora e seja ...
    Ouviu, neste instante,  um estrondo ensurdecedor, sua cabeça doeu e girou. Seu braço tomou uma direção como se estivesse no 'piloto automático'. Ao mesmo tempo, ouviu uma voz que chegava até ele anunciando seu mais agonizante momento, que também significaria sua liberdade.
    -David, está na hora!
    -Hã? O que foi? O que está...?
    -Mãe, o David ainda está na cama! Gritou seu irmão caçula, passando por seu quarto.
    - Sua praga de menino! Foi você que pôs esta porcaria de despertador no meu quarto? Esbravejou David.
    -Mãe, o David está brigando comigo!
    Sabedora da implicância entre os dois, Laura nem ligava muito para suas reclamações. Chegou no quarto do filho para apressá-lo.
    -David, anda logo. Estamos atrasados para a escola!
    -Já sei, mãe! Já sei!
    E David deu risada do sonho estranho que teve. Foi para o banheiro escovar os dentes e se arrumar. Sua mãe lhe perguntou se passara bem a noite, pois sua cama estava molhada de suor e nem estava tão calor assim. Ao que David respondera:
    -Sonho? Um sonho e tanto! Acho até que vou escrever uma história baseada nele.

    E fim!

                          Regina Célia Costa

 

   

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Na espreita - parte dois

     No fundo da casa ficava a cozinha. Nela havia uma pequena mesa com uma cadeira, um fogão, uma pia minúscula e a geladeira. David olhou em volta como se procurasse algo e, depois de um suspiro de derrota, abriu a porta da geladeira. Dentro dela não havia prateleiras ou qualquer outra coisa como alimentos, por exemplo. Havia uma escada em espiral que levava a um compartimento secreto subterrâneo.
    Local sombrio este, pensava David. Vagarosamente, desceu os degraus. Ficava nervoso com o ranger que os mesmos faziam. Não adiantava arrumar, pregar, lixar ou qualquer outra coisa. A escada continuaria assustadoramente barulhenta. David nem se lembrava o que sentia: medo ou raiva.
    As paredes do porão, ou compartimento secreto subterrâneo, eram cobertas por uma vegetação acinzentada, os galhos pareciam secos e estavam cobertos por folhas também cinza esverdeadas. Por vezes podiam-se ver coisas se movendo entre os galhos, porém sem que pudessem ser definidas com  exatidão. David, às vezes achava que via lagartas, baratas ou olhos com pernas minúsculas passeando pelas paredes.
    Sentou-se na única cadeira do lugar. Era de metal, fria como gelo. Ficava de frente à câmara que segredava a maior loucura que ele poderia imaginar. Ficava sentado por horas, ali, a titubear sobre o que fazer. Mesmo que tudo tenha se tornado tão simples, ao longo dos anos, David ainda tinha dúvidas.
    Por fim, deu-se por vencido. Levantou-se e caminhou até a câmara. A mesma era de cobre e tinha um tampo de vidro através do qual se podia ver o que havia dentro. Nunca se acostumara, para ele não passava de um caixão. E, como todos sabem, caixões são para enterrar os mortos...

sexta-feira, 2 de março de 2012

Na espreita - parte um

     Era bem tarde da noite, quando chegou em frente ao portão de sua casa. Fora a uma Convenção de classe, sem ser convidado, claro. Tinha que ver com seus próprios olhos aquilo em que não quis acreditar a sua vida inteira: a verdade nua e crua. Pensava estar sozinho no mundo com a realidade que trancara em sua casa.
     Olhou atentamente para os lados certificando-se de que ninguém o seguia. Destravou o portão e entrou tão silenciosamente que não se podia ouvir sequer sua respiração. Ainda tinha que alcançar a porta e para ele era uma tarefa perigosa. 
     O caminho até a porta era curto, porém cheio de impecilhos como pequenos galhos e folhas secas caídos das duas árvores cujas copas formavam um arco, tal como duas pessoas de mãos dadas numa brincadeira infantil. Por sorte, as luzes da via pública estavam apagadas, o que dificultaria que algum curioso o visse de fato.Tinha medo de chamar a atenção de alguém ou alguma coisa. 
     Praticamente andando nas pontas dos pés chegou à porta e entrou. Jogou-se no sofá improvisado por grandes almofadas e respirou fundo, mas não aliviado. Havia muito o que fazer, seu dia ainda não terminara. Afastou as recordações do que vira e ouvira naquela noite; mais tarde tentaria se concentrar e colocar tudo na "ponta do lápis". Precisava se preparar mesmo sem saber para o quê. Mas, tinha plena convicção de que as coisas não seriam mais como antes.
     Após alguns segundos, levantou-se e olhando com cautela a sua volta, dirigiu-se para o fundo. A casa, por fora, parecia simples. No entanto, em seu interior, não havia nada de comum. Mesmo que sem exageros, ela parecia estranha ao primeiro olhar. Ele já estava acostumado com a aparência. Somente com a aparência. O restante o atormentava. De qualquer forma não tinha como fugir de sua missão. Estava no seu sangue.

                                 ...continua...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Espíritos - parte V

O fim

     Difícil explicar como me sentia. Era insuportável fitar a mim mesma diante do espelho. Não tinha palavras, não tinha voz. Apenas sentimentos confusos, sensações perturbadoras que me confundiam demasiadamente.
     Como pude ser tola e não perceber a armadilha? Aquelas mãos. As mesmas mãos que me sufocaram por anos. Minha pele estava impregnada pelo toque, o cheiro e a força daquele belo misterioso. Sinto tudo novamente. Mas, o toque se iguala ao fogo ardente, o cheiro parece enchofre e a força me empurrava para o abismo de minhas doces lembranças.
     Agora sei que meu visitante era o mesmo que havia me aparecido em sonho e me seduzira antes mesmo de eu o conhecer. Era o mesmo que vinha me assombrando por anos a fios. Contra o qual travava uma batalha, um jogo de braços para saber quem era mais resistente e persistente. Com tristeza e assombro, via que a vitória se distanciava cada vez mais de mim. Assim, me encontrava presa a ele sem poder dizer para quem quer que fosse sobre meu tormento. Ninguém me acreditaria, me chamariam de louca.
     Voltei a me deitar, queria ficar escondida do mundo. Precisava pensar. Parecia estar num vendaval. Vozes, imagens se faziam presentes fora da minha mente. Era tudo muito confuso. Luzes iam e vinham, me deixando tonta e fraca.
     As mãos não mais me sufocavam e, sim, me tocavam com carinho. Eu não via ninguém, estava sozinha e sabia que era ele tentando me enganar com sua gentileza. Isso me causou um medo profundo, nunca sentido por mim antes. Algumas vozes,  desesperadas, gritavam: 'Volte...volte...'. Outras, suplicavam: 'Fuja, enquanto há tempo'. Eu não sabia a que vozes escutar. Me senti perdida. E os espectros passeavam a minha volta, penetravam minha mente caçoando de mim: 'Agora não tem mais volta...já é uma de nós'. Revelação maldita esta.
     Me pus numa fuga louca, correndo e me vi sem rumo. Só me surgiam obstáculos, paredes, árvores, pessoas, abismos e escadas. Procurava por alguém que pudesse me ajudar. E chegava a conclusão de ter enlouquecido como era, de certo, o desejo de meu belo e misterioso algoz. Então, percebi que não estava em mim, havia saído e me distanciado de meu corpo. Era um espectro. As vozes que me diziam 'volte' queriam que eu reencontrasse meu templo de carne e osso. As outras que me diziam 'fuja...', sabiam que assim eu me perderia num caminho escuro e não encontraria meu retorno.
     Estando desta forma num labirinto, vi profissionais do resgate me levando para uma ambulância. Havia amanhecido fria, meus familiares me chamavam e eu não respondia. Sabia que ainda estava lá, em coma e poderia voltar. Por ter sido forte durante anos teria a chance de retornar mas tinha que ajudar outras almas perdidas. Caso contrário, seria dele por toda a eternidade. Mil almas pelo tempo que duraria a minha vida não fosse por este episódio. Como não sei quanto tempo viveria, devo considerar o mínimo e ter pressa.
     Portanto, caso precise de ajuda, eu me apresento para você agora e peço licença para te proteger e invadir seus sonhos:
    _Meu nome é Soraia. Tenha uma boa noite!

Espíritos - parte IV

A armadilha

     Sabe quando você não se sente com ânimo para fazer algo, mas, uma força maior te leva a agir exatamente ao contrário?
     Eu não tinha a menor intenção de ‘curtir’ à noite, queria ficar em casa, assistir TV e dormir cedo. No entanto, acabei saindo com umas amigas, por insistência delas.
     Depois de certo tempo no barzinho, após algumas bebidas, minha atenção foi chamada por alguém sentado no outro lado do bar. Ainda não havia visto o seu rosto. Porém, não conseguia parar de olhar em sua direção. Algo em seus gestos era com um imã, para mim. Enquanto pensava nisso, um amigo de uma das meninas parou ao lado de nossa mesa e nos ofereceu uma bebida, em nome de seu amigo que gostaria de me conhecer. Perguntou-me se eu poderia ir até sua mesa. Já ia respondendo que não e neste momento o rapaz misterioso virou-se e eu entrei em pânico. Senti-me como se rodopiasse pelo ar. O sonho me veio à mente: a montanha, o caminho, o belo. De qualquer forma algo me dizia que não deveria ir, mas fui. Não resisti. Não consegui resistir.
     Como se atraída por um poderoso imã, caminhei em sua direção. Ele se levantou, recebendo-me com o sorriso mais encantador do mundo. Era difícil manter o alerta, mas também, era impossível ignorá-lo.
Ele ia falando sobre vários assuntos, só que eu não conseguia ouvir nada. Apenas percebia aquele sutil sorriso e seus olhos fixados nos meus. Sabia que deveria ir embora, deveria me distanciar. Sentia o perigo e não conseguia me desvencilhar daquela magia que impregnava o ar e me envolvia.
     A única coisa que entendi era o fato de ele ser novo na cidade, não tinha parentes vivos, não tinha vínculos com ninguém. O amigo que estava com ele era recente. Conheceram-se num acidente de carro no qual lhe deu auxílio, socorro. A gratidão do outro foi tamanha que resolveu apresentar-lhe a cidade.
     E, ali estava, olhando para mim como se eu fosse a jóia mais preciosa do mundo. Percebi que ele queria me tocar o rosto. Era visível o desejo de seus olhos penetrantes. Sentia repulsa e ao mesmo tempo atração. Sentia medo dele e ao mesmo tempo, a pessoa mais segura do universo.
     Num determinado momento, ele se levantou e me deu a mão numa reverência quase medieval. Sem pensar retribui o gesto e sem qualquer resistência o acompanhei. Tive a impressão de navegar em meio às estrelas que ponteavam o céu, de mergulhar no mais profundo dos oceanos. Fui levada por uma brisa fresca e perfumada que se transformava em uma nevasca densa de sedução.  
     Deixei que me fizesse sua naquela noite. Deixei que me envolvesse em seus encantos e fui tomada por intensa magia. O prazer nos fazia vibrar, o instinto mais primitivo era palpável. Caí num turbilhão de emoções, sentia-me confusa, sentia prazer e queria mais. Nesta noite, nesta única noite, ele me fez parte dele. Tomou-me para si.
     Acordei em minha casa, despertada por uma gargalhada gutural, assustadora. O desespero tomou conta da minha mente e percebi que jamais seria a mesma.
     
                                                              Continua... ( a última parte deste conto será publicado hoje, 13/01/12 às nove horas da noite, não deixem de ler )

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Espíritos - parte III

A Pista

    Meses, anos se passavam e uma voz sussurrava em minha mente: 'Procure, procure'. Procurar o quê? Eu não entendia. Cada olhar, cada sorriso brilhava aos meus olhos como uma falsa luz. Não acreditava que estava em uma busca incessante pelo mistério, pelo desconhecido mistério há muito enterrado em minh’alma.
    Por quase todas as noites destes cinco anos, as mesmas mãos gigantes me agarravam me sufocando até o ponto de meu coração pulsar na garganta com o afã de querer saltar mundo afora.
    O medo de morrer esmagada pelo invisível era torpemente prazeroso. O perigo me causava uma sensação maluca de curiosidade. Eu não queria e ao mesmo tempo queria tais visitas. E o dono destas mãos sufocantes, que se tornaram minhas algozes, sabia disso e se divertia, com certeza.
    As Mãos passaram a surgir em noites determinadas pelos dias nos quais vivia situações mais estressantes. Era-lhe muito propício, pois me sentia mais fragilizada, não só fisicamente, mas também mentalmente. Achava que sua tentativa seria de fazer com que eu me entregasse com mais facilidade aos seus intuitos.
    Era impossível esboçar qualquer pedido de socorro, minha voz não saia. Somente eu podia ouvi-la. Precisava ser tocada por alguém de carne e osso, alguém que estivesse vivo. Toda vez em que achava que havia chegado ao fim, quando meu corpo já não agüentava mais lutar, quando parecia que meu coração iria explodir e espalhar-se pela escuridão de meu quarto, elas me soltavam e faziam uma leve carícia em meu rosto. Evidentemente querendo me dizer que para meu visitante, a noite havia sido boa e divertida. Eu sempre estava ofegante demais e sentia prazer neste instante de liberdade. As visitas se intercalavam com meus passeios mentais. Meu espírito se negava a aventurar-se.
    Outros eventos começaram a ocorrer. Eu via pessoas conhecidas em locais que sabia não estarem lá. Só que mais tarde, mesmo no meu silêncio, elas me diziam ter sonhado com estes lugares e que eu estava em seus sonhos. Sempre do mesmo jeito: deitada em uma cama suspensa, rodeada por um jardim de tulipas amarelas. Que por sinal, são minhas prediletas
    Comecei a me sentir confusa. Não seria possível ter participação nos sonhos das pessoas. Eu as observava de forma passiva e não conseguia evitar. Com o passar do tempo podia controlar, melhor, escolher quem teria minha presença em seus sonhos. Não tinha muito a ver com lógica ou qualquer outra explicação. Bastava pensar numa determinada pessoa e pronto. Quando começava a sonhar era no sonho desta pessoa que eu estava.
    Percebi este fato e comecei a pensar em alguém que não conhecia. Imaginei que outras pessoas tinham a mesma capacidade, pois eu não seria única a sonhar com quem não conhecia. Mas, tinha dúvidas. Ele, o meu visitante, me sorria estrondosamente ao final da noite. Assim, eu tinha a certeza de que deveria fugir deste insano prazer. Afinal, ele poderia se tornar macabro.

                                           Continua...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Espíritos - parte II

O sonho


     Pois bem, já estava cansada de visitas inesperadas. Ainda mais sendo de onde nem sei. Ou o quê realmente elas são, ou quem as mandou. Se é que tem como mandar em coisas assim, se há como elas serem mandadas. Tinha dúvidas de sua origem, portanto, não me sentia tão animada em recebê-las. Apesar de toda a minha curiosidade, algo em mim se recusava a gostar e me sentir satisfeita a ponto de atingir o êxtase com o 'fato'. Me sentiria uma pecadora se gostasse, se sentisse prazer com isso. 
     Gostaria de ter coragem para estudar o assunto. Porém, não queria ser cobaia de mim mesma e nem de outros. Fiquei calada no que se referia a minha curiosidade. Quando acontecia de eu comentar com alguém, o fazia demostrando pleno controle sobre o 'fato'. Uma coisa era certa, acabava quando eu dizia que não queria mais. Este foi o engano, me foi dada a impressão de ser algo não-ruim. 
    De qualquer forma, filha do meu pai e da minha mãe que sou, aprendi a desconfiar de tudo, de todos. Assim, não entreguei os pontos. Eu confio em mim e olhe lá. Então veio o golpe baixo. Semanas, meses de ausência e sem esperar a tranquilidade. Numa noite como outra qualquer do passado, presente e do futuro, eu tive um sonho. Um sonho revelador, encantador e - não se esqueçam, misterioso. O mistério me encanta, como se tivesse perfume de flores de um jardim mais que suspenso. Cheio de cores e sabores. Repleto de magia, sedução.
     Havia um caminho em volta de uma montanha e pessoas que o pegavam por trilha. Era como num desenho. Este caminho circulava toda a imensa montanha rochosa e quanto mais andávamos mais o caminho se estreitava. Éramos um grupo formado por homens e mulheres. Na metade do percurso, quando a metade exata do grupo já havia avançado tal trecho, chegou a minha hora de passar  e foi quando o vi pela primeira vez.
     Alguém, aos meus olhos muito formoso, belo. De rosto iluminado. A força da beleza era pulsante em meus poros. Era difícil desviar o olhar. Fui tomada da mais incrível emoção da minha vida. E eu o amei naquele instante com toda a força de minha vontade que nem sabia existir.
    Tudo ocorrendo em milésimos de segundos e parecendo uma eternidade. Era como se eu visualizasse toda a vida que ainda não havia vivido. Uma ânsia imensa de algo desconhecido por alguém que me era desconhecido. Eu sabia que era um sonho e ele também. Então me disse que eu não me lembraria dele nem do sonho até o dia em que o conhecesse de verdade. E, ao lembrar do sonho, saberia que era ele.
     Quando eu acordei, sabia que sonhara com algo importante, a sensação de pleno prazer estava aqui, latente. Eu só não sabia que, apesar de ser verdadeiro e mútuo o sentimento, a fraqueza faria do mesmo uma armadilha cinco anos mais tarde.
                                                                  continua . . .

domingo, 8 de janeiro de 2012

Espíritos - parte I

O começo    

     É incrível como certas coisas nos acontece. Já teve aquela sensação de já ter estado num lugar onde nunca esteve? Já sonhou com pessoas que nunca viu? Já passeou enquanto dormia? Eu já. 
     Há quem não acredite. Eu, por mim, mesmo já tendo vivido este tipo de experiência, não digo de boca cheia "Acredito". Certas coisas são inacreditáveis. Nem mesmo com experiência pessoal encontra-se palavra suficiente que nos convença do fato.
     Então por quê estou escrevendo? Tento exprimir com minhas companheiras, as palavras, a sensação do absurdo, do inacreditável, do mistério.
     A primeira vez que ocorreu o 'fato', como era algo desconhecido fiquei um pouco apreensiva. Com um pouco de medo, confesso. Não sabia o que era ou o que poderia ser, ou não queria acreditar no que era. Dúvidas, todo o mistério gera dúvidas. 
     Mas, creio que o medo era mais pela razão das batidas do coração: aceleradas. A sensação física era de duas mãos gigantes segurando o meu corpo e o apertando causando formigamento. A voz grita sem poder ser ouvida. E espectros voando a minha volta, ora enormes e ora tão pequenos que podiam atravessar meu corpo. Faziam isso na minha cabeça, ultrapassando-a como se quisessem penetrar meus pensamentos e colher meus mais profundos segredos. Isso sim, era assustador. Poder saber algo sobre mim que somente eu e Deus sabemos.
     Por vezes me vi em situações de ser duas, cada uma numa posição na cama. O corpo dormia e o espírito queria sair, andar, passear. Ainda bem que tinha medo, a mente interligava as duas partes de mim e elas não sabiam se seria possível retornar desta aventura. Por mais tentada pela curiosidade que eu fosse, jamais me arrisquei o suficiente. E nem quero. Não me sinto neste direito.
    O fato ocorreu por mais duas ou três vezes até meus dezessete anos. Eu sempre fiquei imaginando o motivo de isso ter acontecido comigo. No fundo eu sabia e não queria pensar. Mas há coisas que não podem ser evitadas por tanto tempo. E assim, nos deparamos com o que é inacreditável e com o que é inevitável. 
     E aos dezessete anos, aconteceu o que mais tarde viria a ser o mais impossível, inacreditável e assustador episódio da minha vida.

                                                   continua...


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