quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Espíritos - parte III

A Pista

    Meses, anos se passavam e uma voz sussurrava em minha mente: 'Procure, procure'. Procurar o quê? Eu não entendia. Cada olhar, cada sorriso brilhava aos meus olhos como uma falsa luz. Não acreditava que estava em uma busca incessante pelo mistério, pelo desconhecido mistério há muito enterrado em minh’alma.
    Por quase todas as noites destes cinco anos, as mesmas mãos gigantes me agarravam me sufocando até o ponto de meu coração pulsar na garganta com o afã de querer saltar mundo afora.
    O medo de morrer esmagada pelo invisível era torpemente prazeroso. O perigo me causava uma sensação maluca de curiosidade. Eu não queria e ao mesmo tempo queria tais visitas. E o dono destas mãos sufocantes, que se tornaram minhas algozes, sabia disso e se divertia, com certeza.
    As Mãos passaram a surgir em noites determinadas pelos dias nos quais vivia situações mais estressantes. Era-lhe muito propício, pois me sentia mais fragilizada, não só fisicamente, mas também mentalmente. Achava que sua tentativa seria de fazer com que eu me entregasse com mais facilidade aos seus intuitos.
    Era impossível esboçar qualquer pedido de socorro, minha voz não saia. Somente eu podia ouvi-la. Precisava ser tocada por alguém de carne e osso, alguém que estivesse vivo. Toda vez em que achava que havia chegado ao fim, quando meu corpo já não agüentava mais lutar, quando parecia que meu coração iria explodir e espalhar-se pela escuridão de meu quarto, elas me soltavam e faziam uma leve carícia em meu rosto. Evidentemente querendo me dizer que para meu visitante, a noite havia sido boa e divertida. Eu sempre estava ofegante demais e sentia prazer neste instante de liberdade. As visitas se intercalavam com meus passeios mentais. Meu espírito se negava a aventurar-se.
    Outros eventos começaram a ocorrer. Eu via pessoas conhecidas em locais que sabia não estarem lá. Só que mais tarde, mesmo no meu silêncio, elas me diziam ter sonhado com estes lugares e que eu estava em seus sonhos. Sempre do mesmo jeito: deitada em uma cama suspensa, rodeada por um jardim de tulipas amarelas. Que por sinal, são minhas prediletas
    Comecei a me sentir confusa. Não seria possível ter participação nos sonhos das pessoas. Eu as observava de forma passiva e não conseguia evitar. Com o passar do tempo podia controlar, melhor, escolher quem teria minha presença em seus sonhos. Não tinha muito a ver com lógica ou qualquer outra explicação. Bastava pensar numa determinada pessoa e pronto. Quando começava a sonhar era no sonho desta pessoa que eu estava.
    Percebi este fato e comecei a pensar em alguém que não conhecia. Imaginei que outras pessoas tinham a mesma capacidade, pois eu não seria única a sonhar com quem não conhecia. Mas, tinha dúvidas. Ele, o meu visitante, me sorria estrondosamente ao final da noite. Assim, eu tinha a certeza de que deveria fugir deste insano prazer. Afinal, ele poderia se tornar macabro.

                                           Continua...

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