sexta-feira, 18 de maio de 2012

Na espreita - parte três

    Pois bem, David decidira abrir o tampo e seguir seu destino. Sabia que não havia como fugir do que estava escrito. Sua vontade de terminar com o sofrimento da dúvida e as incertezas a cerca de seu futuro, tornaram-se maiores que o medo.
    Durante anos, ele alimentara o medo das consequências que recairiam sobre a humanidade, caso seguisse o inevitável. Mas, não tinha jeito. David não aguentaria um só dia o fardo deste medo. O fim chegou e sabia que este era apenas o início de tudo.
    Começou a destravar o tampo de vidro. Eram ao todo sete travas, para cada uma havia um código diferente. Tais códigos foram ensinados a David mesmo antes de aprender a ler ou escrever. Foram sua primeira lição. Cada um deles era formado por sete algarismos e três letras. Uma combinação difícil de ser memorizada que representam parte de sua tortura mental.
    Respirou fundo e começou. O código da primeira trava veio-lhe a mente tão fácil como se pode dizer o próprio nome.
    -A primeira trava é 6F66G0357L. Falou em voz alta e ouviu um 'treck'.
    Sentindo um frio no estômago, mas continuou:
    -A segunda trava é  K154P137R9.
    David estava temeroso e ao mesmo tempo convicto.
    -A terceira: 87Z310T2H4.
    -A quarta trava: 666B333Y1A. Suava frio, seu cérebro fervia, suas mãos tremiam.
    Seu pensamento retornava à infância que perdera por causa destes códigos. Achava não ter sido justo para uma criança tal responsabilidade. Perdera momentos divertidos. Porém, agora entendia sua missão e sabia que protelara por tempo demais.
    -A quinta trava é W798E1563B.
    -A sexta: D58FG94761
    Fora treinado para eliminar qualquer tentativa de fuga e, na hora certa, para agir com precisão. Às vezes pensava que a hora certa já havia passado. Por outro lado, sabia que o momento de cada ato ocorre quando deve de fato ocorrer. Chegava assim, ao instante derradeiro.Respirou fundo mais uma vez, relembrou a sétima e última senha. Ponderou com a sapiência da retórica, seguiu adiante.
    -A sétima trava eu abro agora e seja ...
    Ouviu, neste instante,  um estrondo ensurdecedor, sua cabeça doeu e girou. Seu braço tomou uma direção como se estivesse no 'piloto automático'. Ao mesmo tempo, ouviu uma voz que chegava até ele anunciando seu mais agonizante momento, que também significaria sua liberdade.
    -David, está na hora!
    -Hã? O que foi? O que está...?
    -Mãe, o David ainda está na cama! Gritou seu irmão caçula, passando por seu quarto.
    - Sua praga de menino! Foi você que pôs esta porcaria de despertador no meu quarto? Esbravejou David.
    -Mãe, o David está brigando comigo!
    Sabedora da implicância entre os dois, Laura nem ligava muito para suas reclamações. Chegou no quarto do filho para apressá-lo.
    -David, anda logo. Estamos atrasados para a escola!
    -Já sei, mãe! Já sei!
    E David deu risada do sonho estranho que teve. Foi para o banheiro escovar os dentes e se arrumar. Sua mãe lhe perguntou se passara bem a noite, pois sua cama estava molhada de suor e nem estava tão calor assim. Ao que David respondera:
    -Sonho? Um sonho e tanto! Acho até que vou escrever uma história baseada nele.

    E fim!

                          Regina Célia Costa

 

   

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